SUS aplica zolgensma, o remédio mais caro do mundo, pela 1ª vez

Bebê tomando vacina + subtítulo

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SUS aplica pela primeira vez o Zolgensma, remédio mais caro do mundo, no DF

O Sistema Único de Saúde (SUS) deu um passo histórico em maio de 2025 ao realizar a primeira aplicação do Zolgensma, considerado o remédio mais caro do mundo, em uma criança com Atrofia Muscular Espinhal (AME) tipo 1, no Distrito Federal. A iniciativa representa uma vitória para o sistema de saúde pública brasileiro, que, mesmo diante de desafios orçamentários, demonstrou capacidade de fornecer um dos tratamentos mais inovadores e inacessíveis da medicina moderna.

O que é o Zolgensma?

Zolgensma é um medicamento de terapia gênica desenvolvido para tratar a Atrofia Muscular Espinhal (AME), uma doença genética rara e grave que afeta a capacidade do corpo de produzir uma proteína essencial para a sobrevivência dos neurônios motores. Essa condição causa fraqueza muscular progressiva e pode levar à morte ainda nos primeiros anos de vida.

Fabricado pelo laboratório Novartis, o Zolgensma é administrado em dose única e age corrigindo o gene defeituoso responsável pela doença, o SMN1, inserindo uma cópia funcional dele por meio de um vetor viral. O tratamento é indicado para crianças com até dois anos de idade e tem como objetivo interromper a progressão da AME, possibilitando uma vida mais próxima do normal.

O valor impressionante: por que o Zolgensma custa tanto?

O preço médio de uma única dose de Zolgensma gira em torno de US$ 2,1 milhões (cerca de R$ 6 milhões), o que o coloca no topo da lista dos medicamentos mais caros do mundo. O custo elevado se justifica, segundo a fabricante, pelo alto investimento em pesquisa e desenvolvimento, além da complexidade da produção e pela eficácia revolucionária do tratamento, que substitui anos de terapias paliativas.

Ademais, o Zolgensma oferece benefícios econômicos a longo prazo, já que evita internações, procedimentos médicos contínuos e outros custos associados ao manejo da AME com terapias convencionais.

A chegada do Zolgensma ao SUS

A entrada do Zolgensma no rol de medicamentos fornecidos pelo SUS aconteceu após intensas negociações entre o Ministério da Saúde, a Novartis e entidades civis. Em 2022, a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) começou a analisar a viabilidade do fornecimento. Em 2023, a Anvisa aprovou seu uso no Brasil, e em 2024, o medicamento passou a ser incluído oficialmente na lista de tratamentos possíveis via SUS, embora em caráter excepcional e mediante critérios clínicos rigorosos.

A primeira aplicação foi realizada no Hospital da Criança de Brasília José Alencar, e a beneficiada foi uma bebê de apenas nove meses diagnosticada com AME tipo 1. A menina foi selecionada após avaliação criteriosa, considerando critérios como idade, peso e quadro clínico.

Como conseguir o Zolgensma pelo SUS?

Apesar de estar disponível no SUS, o Zolgensma não pode ser solicitado diretamente em postos de saúde. O processo para obter o medicamento envolve uma série de etapas:

  1. Diagnóstico precoce e confirmado de AME tipo 1.

  2. Encaminhamento para centros de referência habilitados, como o Hospital da Criança de Brasília.

  3. Avaliação por uma equipe multidisciplinar, que verifica se a criança atende aos critérios clínicos.

  4. Pedido formal ao Ministério da Saúde, acompanhado de laudos médicos e documentos.

  5. Autorização da aplicação e agendamento do tratamento.

O acesso é regulado para garantir que o tratamento seja direcionado a quem mais se beneficiará dele, já que a janela terapêutica é muito curta e o medicamento precisa ser administrado antes dos dois anos de idade.

Para entender melhor sobre o precesso de aquisição de medicamentos pelo SUS, confira Como obter medicamentos de alto custo Gratuitamente pelo SUS ou entre em Contato Conosco.

O impacto para as famílias brasileiras

Esse custo de R$ 6 milhões, inalcançável para a imensa maioria das famílias brasileiras, costumava levar parentes a campanhas de arrecadação nas redes sociais — os famosos “vakinha online” — na tentativa de financiar o tratamento fora do país ou em caráter particular no Brasil.

Com a inclusão no SUS, a realidade começa a mudar. Agora, crianças com AME tipo 1 têm uma chance real de receber o tratamento sem depender de doações. Essa mudança não é apenas médica; é social, emocional e até mesmo econômica, pois reduz o peso financeiro e psicológico sobre as famílias.

O que dizem especialistas?

Segundo a geneticista Dra. Cláudia Magalhães, da Sociedade Brasileira de Genética Médica, o uso de Zolgensma representa “um marco na medicina brasileira”:

“Estamos falando de uma terapia gênica que muda o curso de uma doença fatal. Ter isso disponível no SUS mostra como o sistema pode ser eficiente e humano, mesmo em meio a tantas limitações.”

Além disso, a coordenadora do programa de doenças raras do Ministério da Saúde, Renata Oliveira, reforça que o Brasil está entre os poucos países do mundo que oferecem essa terapia pelo sistema público de saúde:

“É um momento histórico. Pouquíssimos sistemas de saúde pública no mundo conseguem oferecer esse tratamento.”

A importância do diagnóstico precoce

Um dos maiores desafios para o sucesso do tratamento com Zolgensma é o diagnóstico precoce da AME. A inclusão do teste de triagem para AME no Teste do Pezinho ampliado é uma das estratégias adotadas por estados como São Paulo, Minas Gerais e o Distrito Federal para identificar a doença nas primeiras semanas de vida.

Quanto mais cedo a doença for detectada, maiores são as chances de que o medicamento tenha efeito positivo e evite sequelas irreversíveis.

Conquistas e desafios

A administração do Zolgensma no SUS é uma vitória, mas ainda há obstáculos. O acesso ainda é limitado, o processo é burocrático e muitas famílias desconhecem que o tratamento está disponível pelo sistema público.

Entidades como a AME Brasil e a União Nacional das Associações de Doenças Raras (UNAER) seguem lutando por mais centros de referência, ampliação da triagem neonatal e campanhas de conscientização sobre a doença.

Conclusão

Tal aplicação do Zolgensma pelo SUS marca um novo capítulo na saúde pública brasileira. Representa mais que um tratamento: simboliza esperança, justiça social e compromisso com a vida. Que esse seja apenas o primeiro de muitos avanços na luta pelas doenças raras no Brasil.

Fontes:
G1;
UOL;
BBC Brasil.

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