O Crescimento e os Desafios da Pesquisa Farmacêutica no Brasil
Nos últimos anos, o Brasil vem se destacando como um dos maiores mercados consumidores de medicamentos do mundo. Apesar desse crescimento, os laboratórios de medicamentos no Brasil ainda enfrentam desafios significativos, principalmente na área de pesquisa farmacêutica.
A dependência de insumos importados, as dificuldades regulatórias, o baixo investimento em pesquisa e a falta de infraestrutura tecnológica limitam a capacidade do país de produzir medicamentos inovadores e de garantir maior autonomia sanitária. Ao mesmo tempo, iniciativas públicas e privadas começam a redesenhar o cenário, mostrando caminhos promissores para o desenvolvimento nacional.
Neste artigo, vamos explorar a situação atual dos laboratórios brasileiros, os principais obstáculos enfrentados pelas pesquisas farmacêuticas e as estratégias que estão sendo adotadas para transformar o setor.
Um Setor em Crescimento, Mas com Dependências
Nosso país ocupa hoje a sexta posição no mercado farmacêutico global, movimentando aproximadamente R$ 165 bilhões por ano, segundo dados da IQVIA. A tendência é que o país suba para a quinta posição até 2028, impulsionado por fatores como o envelhecimento da população e o aumento do acesso a medicamentos.
Contudo, esse crescimento não se reflete no desenvolvimento de medicamentos inovadores. O país ainda depende fortemente da importação de Insumos Farmacêuticos Ativos (IFAs), que compõem cerca de 95% da base produtiva. Essa dependência, acentuada durante a pandemia de COVID-19, tornou evidente a vulnerabilidade da cadeia produtiva nacional.
A estrutura da indústria farmacêutica brasileira é composta por grandes multinacionais com operação local, empresas nacionais que dominam a produção de genéricos e medicamentos similares e importantes laboratórios públicos, como Farmanguinhos (Fiocruz) e a Funed (MG). Cada um desses segmentos tem papel fundamental no mercado, mas a capacidade de inovação ainda é limitada.
Estrutura dos Laboratórios de Medicamentos no Brasil
A indústria farmacêutica nacional é composta por três principais tipos de laboratórios:
Laboratórios multinacionais com operação local: Pfizer, Sanofi, Novartis.
Laboratórios nacionais: Eurofarma, EMS, Hypera Pharma, Aché, Cristália.
Laboratórios públicos: Farmanguinhos (Fiocruz), Funed (MG), Lafepe (PE), Tecpar (PR).
Enquanto as multinacionais concentram grandes investimentos em P&D (pesquisa e desenvolvimento) Apesar dos desafios, diversos avanços vêm ocorrendo na pesquisa farmacêutica no Brasil:
Os Desafios da Pesquisa Farmacêutica no Brasil
Entre os principais entraves para o avanço da pesquisa farmacêutica no Brasil, o baixo investimento em pesquisa e desenvolvimento é um dos mais críticos. Enquanto países como Alemanha e Estados Unidos destinam entre 15% e 20% de seu faturamento para inovação, as empresas brasileiras investem apenas cerca de 1,2%.
Essa limitação financeira dificulta o desenvolvimento de novas moléculas e tecnologias, mantendo o país em uma posição de consumidor, e não de produtor de medicamentos de ponta.
Além disso, a burocracia regulatória representa um obstáculo importante. O processo de aprovação de pesquisas clínicas pode levar até dois anos, um prazo muito superior ao observado em mercados mais competitivos. A atuação de múltiplos órgãos reguladores e a sobreposição de exigências tornam o ambiente pouco atrativo para o desenvolvimento de novos produtos.
Outro fator que impede o avanço da pesquisa farmacêutica nacional é a defasagem tecnológica em diversos laboratórios, especialmente aqueles voltados para medicamentos de maior complexidade, como biológicos e terapias avançadas. Apesar de iniciativas recentes de modernização, muitas empresas ainda operam com tecnologia obsoleta.
Por fim, a formação de profissionais especializados não acompanha as demandas da indústria. Áreas estratégicas, como biotecnologia, farmacogenômica e bioinformática, ainda sofrem com a falta de mão de obra qualificada. Isso limita a capacidade do país de competir em um cenário global cada vez mais baseado em ciência e inovação.
Caminhos Atuais da Pesquisa Farmacêutica no Brasil
Apesar dos desafios, diversos avanços vêm ocorrendo na pesquisa farmacêutica no Brasil:
Parcerias Público-Privadas
Parcerias entre laboratórios públicos e privados são hoje uma das principais estratégias para promover inovação. Isso pode ser visto na Bio-Manguinhos (Fiocruz), que colabora com empresas para desenvolvimento de vacinas e biológicos. Também temos a atuação em conjunto de Cristália e Libbs com universidades e startups.
Inovação Incremental
Diante das limitações orçamentárias, os laboratórios brasileiros têm apostado na inovação incremental, com:
Novas formulações.
Combinações inéditas de princípios ativos.
Novas formas de liberação de medicamentos.
Essa estratégia, de menor risco e custo, permite ampliar a oferta terapêutica nacional.
Desenvolvimento de Biossimilares
Biossimilares representam um campo estratégico. Empresas como Cristália e Libbs já lançaram produtos inovadores no mercado brasileiro, oferecendo alternativas mais acessíveis a terapias biológicas de alto custo.
Redes de Pesquisa Colaborativa
Plataformas como a Rede Brasileira de Pesquisa Clínica estão sendo fortalecidas, promovendo a integração entre universidades, centros de pesquisa e a indústria farmacêutica.
Essa colaboração é essencial para acelerar o desenvolvimento de novos medicamentos, compartilhar infraestrutura e conhecimento e formar talentos multidisciplinares.
Investimentos em Biotecnologia
Alguns laboratórios nacionais já iniciaram investimentos importantes em biotecnologia farmacêutica:
Libbs inaugurou em São Paulo uma planta dedicada à produção de medicamentos biológicos.
Aché e Cristália também estão ampliando suas capacidades nesse segmento.
Esse movimento é estratégico para reduzir a dependência externa e ampliar a oferta de terapias de última geração.
Oportunidades e Perspectivas para o Futuro
O fortalecimento da pesquisa farmacêutica nacional depende de uma combinação de fatores. Em primeiro lugar, é fundamental ampliar os investimentos em P&D, tanto públicos quanto privados. Sem um compromisso financeiro robusto, será difícil reverter o quadro de baixa inovação.
Além disso, é urgente modernizar o ambiente regulatório. A redução da burocracia e a maior previsibilidade nos processos de aprovação são essenciais para atrair investimentos e acelerar o desenvolvimento de novos produtos, pois essa é a maior dificuldade hoje enfrentada pelos laboratórios de medicamentos no Brasil, devido ao alto custo de investimento e retorno a muito longo prazo.
Formar profissionais também é uma necessidade que precisa ser reforçada. Programas de pós-graduação e especialização devem estar alinhados com as necessidades da indústria, com foco em áreas de fronteira como biotecnologia e farmacogenômica.
Por fim, políticas públicas consistentes, como incentivos fiscais estáveis e programas de apoio à inovação, são indispensáveis. A proposta de criação de uma Política Nacional de Medicamentos Estratégicos, em discussão no governo federal, representa uma oportunidade importante para estruturar uma agenda de longo prazo para o setor.
Considerações Finais
Os laboratórios de medicamentos no Brasil enfrentam uma série de desafios, mas também contam com um potencial significativo de crescimento e inovação. Com um mercado interno robusto e uma base científica promissora, o país tem condições de fortalecer sua posição na indústria global de medicamentos.
O caminho exige investimento, planejamento estratégico e colaboração entre os diversos atores do setor. Se bem conduzido, esse processo pode não apenas aumentar a competitividade da indústria farmacêutica brasileira, mas também garantir maior autonomia sanitária e ampliar o acesso da população a medicamentos de qualidade.
Fontes:
Futuro da Saude;
ABIQUIFI;
Gov.