Iniciativa Brasileira Busca Cura Inédita do Câncer Cerebral Infantil

Médicos realizando pesquisas em laboratório + subtítulo

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Um projeto brasileiro contra o câncer cerebral infantil

Um projeto idealizado por um pai brasileiro pode estar prestes a mudar a história da cura do câncer cerebral infantil. O The Medulloblastoma Initiative (MBI), criado por Fernando Goldsztein após o diagnóstico do filho com meduloblastoma, deu início aos primeiros testes clínicos em crianças. A proposta é revolucionária: uma imunoterapia personalizada, desenvolvida com base no DNA do tumor e no sistema imunológico da própria criança.

Se for bem-sucedida, a iniciativa pode abrir caminho para uma cura mais eficaz e com menos efeitos colaterais, algo inédito no combate a esse tipo de câncer.

O que é o meduloblastoma e por que ele é tão grave

Meduloblastoma é um tipo de tumor cerebral que afeta principalmente crianças e representa um dos cânceres pediátricos mais agressivos. Estima-se que cerca de 15 mil crianças sejam diagnosticadas com a doença todos os anos, com uma taxa de mortalidade de aproximadamente 35%.

Além do risco de morte, os tratamentos tradicionais — baseados em quimioterapia e radioterapia — remontam aos anos 1980 e deixam sequelas severas em boa parte dos pacientes curados, como problemas cognitivos e de crescimento. Por isso, a busca por terapias mais modernas e personalizadas se tornou urgente.

A origem da iniciativa: um pai em busca de cura para o filho

O MBI surgiu a partir de uma experiência pessoal profundamente transformadora. Em 2015, Fernando Goldsztein, empresário gaúcho e conselheiro da incorporadora Cyrela, recebeu a notícia de que seu filho, então com 9 anos, havia sido diagnosticado com meduloblastoma. Após um tratamento inicial, a doença retornou em 2019, e com ela, as chances de cura despencaram para cerca de 5%.

A reincidência é justamente o maior desafio nesse tipo de câncer, e foi diante dessa realidade que Goldsztein decidiu agir. “O MBI foi criado para salvar meu filho e milhares de outras crianças”, declarou o empresário à Exame. “Por não ser um tributo, temos um senso de urgência diferente. Um ano ou dois fazem muita diferença.”

O que é o The Medulloblastoma Initiative (MBI)

MBI é um projeto internacional de pesquisa biomédica que reúne 14 laboratórios de ponta na América do Norte e Europa, todos voltados para o desenvolvimento de um novo protocolo de imunoterapia personalizada contra o meduloblastoma.

A coordenação clínica é do Dr. Roger Packer, do Children’s National Hospital, em Washington (EUA). O diferencial do MBI é o modelo colaborativo: ao contrário de boa parte da pesquisa científica, que é feita de forma isolada e competitiva, o projeto une diferentes centros de pesquisa, cada um responsável por uma parte do processo, trocando dados e resultados em tempo real.

“No MBI, cada um tem uma peça do quebra-cabeça, com informações divididas. Este modelo de pesquisa pode servir como novo protocolo para outras doenças também”, explicou Goldsztein.

Como funciona o novo tratamento

Esse tratamento desenvolvido pelo MBI é baseado em imunoterapia personalizada, que consiste em fortalecer o sistema imunológico da criança para que ele reconheça e destrua as células tumorais.

O processo envolve:

  1. Coleta de informações genéticas do tumor e dos linfócitos da criança;

  2. Desenvolvimento de um tratamento sob medida com base nessas informações;

  3. Aplicação da imunoterapia com o objetivo de atacar exclusivamente as células cancerígenas;

  4. Redução de efeitos colaterais, já que a terapia não agride células saudáveis como a quimioterapia faz.

O grande trunfo do método é que, além de ampliar as chances de cura, ele preserva o desenvolvimento neurológico e físico das crianças, algo que os tratamentos tradicionais não conseguem garantir.

Início dos testes clínicos: um marco histórico

Neste mês (junho de 2024), o MBI alcançou um marco importante: os primeiros dois pacientes iniciaram o tratamento clínico experimental. A expectativa é que até 18 crianças sejam selecionadas para essa fase inicial, que deve se estender pelos próximos meses.

A meta da equipe liderada por Roger Packer é que, em até 18 meses, os resultados dos testes indiquem se a terapia poderá ser considerada viável como um novo padrão global de tratamento.

Esse cronograma é considerado bastante acelerado: segundo especialistas, pesquisas dessa complexidade geralmente levam o dobro do tempo para sair do papel.

Diferença em relação ao modelo tradicional de pesquisa

Essa iniciativa também propõe uma mudança profunda na forma como as pesquisas biomédicas são feitas. Em vez de laboratórios isolados protegendo seus dados por questões de patente ou competição, o modelo criado por Goldsztein aposta em colaboração aberta.

Tal filosofia busca evitar duplicação de esforços, acelerar as descobertas e maximizar os recursos — públicos e privados — investidos. O próprio Goldsztein resume bem essa abordagem: “A imensa maioria das iniciativas pela cura de doenças é feita como tributo a pessoas que morreram. O MBI foi criado para salvar vidas, não para lamentar perdas.”

Potencial para mudar o futuro do câncer infantil

A expectativa da equipe médica e científica envolvida para a cura do câncer cerebral infantil é alta. O próprio Dr. Roger Packer, referência mundial em neuro-oncologia pediátrica, afirmou:

“Estamos no limiar de uma nova era do tratamento do câncer cerebral infantil. Em cinco anos, acredito que teremos terapias inovadoras e personalizadas que podem transformar um diagnóstico altamente devastador em uma condição mais tratável.”

Esse tipo de avanço representa uma esperança concreta para milhares de crianças diagnosticadas todos os anos, e também para suas famílias, que muitas vezes enfrentam não apenas a dor do diagnóstico, mas também os impactos de terapias agressivas e ultrapassadas.

Como apoiar o projeto

O MBI depende de doações privadas e parcerias corporativas para continuar avançando. O financiamento permite acelerar a pesquisa, ampliar os testes clínicos e, eventualmente, democratizar o acesso à terapia desenvolvida. Quem quiser contribuir pode acessar o site oficial do projeto.

Conclusão

The Medulloblastoma Initiative não é apenas mais uma pesquisa científica. É o reflexo do amor de um pai que recusou a passividade diante de um diagnóstico brutal, e decidiu agir — não só por seu filho, mas por milhares de outras crianças ao redor do mundo.

Com base em imunoterapia personalizada, colaboração internacional e senso de urgência, o projeto representa o que há de mais promissor na medicina atual. Se os testes clínicos confirmarem as expectativas, estaremos diante de uma nova era para a cura do câncer cerebral infantil.

Fontes:
Exame;
INCA;
G1;
CNN Brasil.

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