Avanços no tratamento do câncer de próstata revolucionam abordagens clínicas em 2024
O câncer de próstata, um dos tumores mais incidentes entre os homens no mundo, ganha novas perspectivas com os avanços científicos apresentados no ASCO 2024 (Congresso da Sociedade Americana de Oncologia Clínica). Entre os principais destaques, estão terapias-alvo mais precisas, uso inovador da medicina personalizada e novos dados sobre o uso da Lutécio-177, um radiofármaco que tem mostrado resultados expressivos no controle da doença avançada.
Esses avanços não apenas apontam para melhores taxas de sobrevida, como também elevam a qualidade de vida dos pacientes em tratamento — uma preocupação central da oncologia moderna.
Panorama atual do câncer de próstata no Brasil e no mundo
Segundo o INCA (Instituto Nacional de Câncer), o câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens no Brasil, com estimativas de mais de 70 mil novos casos em 2024. No mundo, a doença representa mais de 1,4 milhão de diagnósticos por ano, conforme dados da Organização Mundial da Saúde (OMS).
A detecção precoce ainda é um desafio, principalmente por se tratar de um tipo de câncer que pode evoluir silenciosamente. Cerca de 20% dos diagnósticos são realizados em estágios avançados, quando as opções terapêuticas são mais limitadas e os prognósticos, menos favoráveis.
Destaques do ASCO 2024: O que está mudando no tratamento
O congresso da ASCO reuniu oncologistas de todo o mundo para discutir os mais recentes estudos clínicos sobre o câncer de próstata. Veja os principais avanços destacados:
1. Terapias com radioisótopos: Lutécio-177 PSMA
O uso do Lutécio-177 PSMA, uma forma de radioterapia molecular dirigida, foi um dos pontos altos. Essa abordagem tem como alvo o antígeno de membrana específico da próstata (PSMA), presente em células tumorais.
Benefícios observados:
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Redução significativa do volume tumoral
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Prolongamento da sobrevida livre de progressão
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Menores efeitos colaterais em comparação à quimioterapia tradicional
O estudo VISION, apresentado no congresso, mostrou que o tratamento com Lutécio-177 reduziu em até 38% o risco de morte em pacientes com câncer de próstata metastático resistente à castração (mCRPC), um estágio avançado da doença.
“O uso do Lutécio-177 pode se tornar um divisor de águas, principalmente para pacientes que esgotaram outras opções terapêuticas”, afirmou o oncologista Fernando Maluf, em entrevista ao portal Futuro da Saúde.
2. Medicina personalizada e testes genéticos
A integração de testes genéticos no tratamento também recebeu destaque. Com a identificação de mutações como BRCA1, BRCA2 e ATM, oncologistas podem personalizar o plano terapêutico e utilizar inibidores de PARP, como olaparibe e rucaparibe, com maior assertividade.
Vantagens dessa abordagem:
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Maior eficácia em tumores com mutações específicas
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Redução de efeitos adversos
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Tratamentos mais direcionados
Além disso, pacientes com histórico familiar de câncer devem realizar esses testes o quanto antes, pois podem indicar risco aumentado e influenciar no tipo de tratamento adotado.
3. Combinações terapêuticas mais eficazes
Estudos apresentados também mostraram que a combinação de tratamentos tem se mostrado mais eficaz do que abordagens isoladas. Um exemplo é o uso de terapia hormonal com enzalutamida associada à radioterapia, que apresentou maior controle da progressão da doença.
Outra associação promissora envolve imunoterapia com quimioterapia, em especial para pacientes com metástases ósseas. Embora a imunoterapia ainda enfrente limitações no câncer de próstata, os dados do estudo CHECKMATE-650 indicam benefícios em determinados subgrupos genéticos.
O papel da tecnologia: IA e biomarcadores
A Inteligência Artificial (IA) tem sido utilizada no mapeamento genético e na identificação precoce de padrões de resistência a terapias. Além disso, o uso de biomarcadores, como o PSA livre versus total e o índice PHI (Prostate Health Index), tem ganhado espaço como ferramentas de acompanhamento mais precisas da doença.
Essas tecnologias são fundamentais para auxiliar médicos a preverem quais pacientes terão melhor resposta a cada tipo de tratamento, tornando a abordagem cada vez mais personalizada.
Cuidados integrativos ganham força no tratamento
Outro ponto abordado no congresso foi a importância dos cuidados integrativos na jornada do paciente. Terapias como fisioterapia pélvica, suporte psicológico, alimentação balanceada e prática de atividade física demonstram impactos positivos significativos no bem-estar dos pacientes, sobretudo durante fases agressivas do tratamento.
O modelo de atenção multidisciplinar é recomendado por entidades como a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) e a American Urological Association (AUA), por garantir uma abordagem mais humanizada e centrada no paciente.
O futuro da oncologia prostática: o que esperar?
Os avanços apresentados no ASCO 2024 apontam para um futuro mais promissor no tratamento do câncer de próstata, sobretudo para pacientes em estágio avançado. A tendência é a consolidação de terapias-alvo, maior uso de testes genéticos e a aplicação mais frequente de terapias como o Lutécio-177, que ainda estão em processo de regulamentação no Brasil, mas já são utilizadas em centros de referência, como o Hospital Albert Einstein e o A.C. Camargo.
No médio prazo, espera-se a democratização desses tratamentos, com maior acesso por meio do SUS e da cobertura por planos de saúde, o que exigirá também atualização nos protocolos clínicos e regulamentações da ANVISA.
Conclusão: esperança com base em evidências
O câncer de próstata, que já foi visto como uma sentença definitiva nos estágios mais graves, começa a ser encarado com mais otimismo graças aos avanços científicos. O ASCO 2024 trouxe dados sólidos, perspectivas personalizadas e inovações que caminham para tornar o tratamento mais eficaz e menos agressivo.
A luta contra o câncer de próstata continua, mas agora com mais ferramentas, mais precisão e, principalmente, com mais esperança para os pacientes e suas famílias.
Fontes:
Futuro da Saúde;
ASCO;
Vencer o Câncer;
Sociedade Brasileira de Urologia;
Medscaspe Oncology.