Injeção contra HIV: proteção semestral e eficácia comprovada
A luta global contra o HIV acaba de ganhar um aliado poderoso: a injeção contra HIV conhecida como lenacapavir. Aprovada pela Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora dos Estados Unidos, o medicamento representa um marco histórico ao oferecer quase 100% de proteção contra o vírus com apenas duas aplicações por ano.
Comercializado sob o nome Yeztugo, o lenacapavir é uma inovação aguardada há décadas por especialistas que enfrentam desafios relacionados à adesão da PrEP oral — esquema diário que, embora eficaz, ainda encontra resistência por fatores logísticos, estigma e dificuldade de acesso.
De acordo com a prestigiosa revista Science, que nomeou o lenacapavir como a “descoberta do ano” em 2024, a injeção contra HIV pode finalmente impulsionar uma virada real na epidemia global, principalmente em comunidades mais vulneráveis.
Para quem a injeção contra HIV é indicada?
O lenacapavir foi aprovado nos EUA para adultos e adolescentes que:
- Pese pelo menos 35 kg.
- Não estejam infectados pelo HIV (ou seja, para uso na prevenção).
- Sejam considerados em risco aumentado de exposição ao vírus, como homens que fazem sexo com homens, pessoas trans, profissionais do sexo ou casais sorodiferentes.
A injeção contra HIV não substitui outros métodos preventivos — como preservativos — mas é considerada por especialistas uma das ferramentas mais eficazes já desenvolvidas para reduzir as novas infecções.
Como funciona o lenacapavir?
Diferente de uma vacina, o lenacapavir é um antiviral de ação prolongada que bloqueia as vias que o HIV usa para se replicar. Isso impede que o vírus se estabeleça no corpo, desde que o medicamento esteja presente na corrente sanguínea.
Se o tratamento for interrompido, a proteção desaparece — ao contrário de vacinas, que criam memória imunológica. Por isso, a injeção contra HIV precisa ser reaplicada a cada seis meses para manter a eficácia.
Efeitos colaterais do lenacapavir
Embora os estudos mostrem alto grau de segurança, a injeção pode provocar alguns efeitos colaterais leves a moderados, como:
- Dor ou inchaço no local da aplicação.
- Dor de cabeça.
- Náusea.
- Cansaço.
- Irritação na pele em volta do local da injeção.
Em geral, segundo dados publicados no New England Journal of Medicine, esses efeitos tendem a ser transitórios e menos frequentes do que os eventos adversos relatados na PrEP oral.
Resultados de estudos clínicos
Dois grandes estudos (Purpose-1 e Purpose-2) comprovaram a eficácia da injeção contra HIV:
Purpose-1: Nenhuma infecção entre mais de 5 mil mulheres cisgênero que receberam lenacapavir ao longo de quase dois anos.
Purpose-2: Apenas 2 casos de HIV entre mais de 3 mil participantes diversos (incluindo homens cis e pessoas trans) usando lenacapavir; 9 casos no grupo que usou PrEP oral.
Comparado à incidência de HIV na população geral sem PrEP, o lenacapavir teve eficácia de cerca de 96%.
Desafios de preço e acesso
Apesar do potencial revolucionário da injeção contra HIV, o preço segue sendo um entrave. O custo do tratamento anual é de aproximadamente US$ 40 mil nos EUA — o que torna inviável a adoção em larga escala em países de renda média e baixa.
Organizações internacionais como UNAIDS e AVAC pressionam a Gilead Sciences para reduzir preços, licenciar versões genéricas e ampliar o acesso. Em 2024, a empresa firmou acordos com seis fabricantes para vender genéricos em 120 países prioritários, mas o Brasil ainda ficou de fora.
Segundo Winnie Byanyima, diretora da UNAIDS, o impacto global só virá se o medicamento chegar a todas as pessoas que dele precisam.
Perspectivas para o futuro
Especialistas acreditam que a injeção contra HIV pode redefinir a prevenção ao redor do mundo. Mas o sucesso depende de estratégias de implementação eficazes, acesso equitativo e educação para reduzir estigmas que ainda cercam o HIV.
Enquanto o sonho de uma vacina definitiva segue distante, a ciência aposta em novas estratégias de PrEP de longa duração — como o lenacapavir — para transformar o panorama da epidemia nos próximos anos.
Conclusão
A aprovação da injeção contra HIV nos EUA marca uma nova era na luta contra o vírus. Com eficácia de quase 100% e apenas duas doses por ano, o lenacapavir oferece esperança para milhões de pessoas em risco de infecção.
Mas ainda é necessário garantir acesso global, reduzir custos e integrar o medicamento em programas de saúde pública para que a promessa se traduza em vidas salvas e em um futuro sem novas infecções.
Fontes:
New England Journal of Medicine;
UNAIDS;
AVAC;
The Lancet HIV;
Science Magazine;
NIH.