Conitec e canetas emagrecedoras: críticas de sociedades médicas

Pessoa aplicando injeção em barriga de mulher + subtítulo

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Decisão da Conitec gera controvérsia sobre canetas emagrecedoras no SUS

A recente decisão da Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS) de não recomendar, neste momento, a incorporação das chamadas “canetas emagrecedoras” ao Sistema Único de Saúde (SUS) gerou um intenso debate entre profissionais de saúde, sociedades médicas e pacientes.

O posicionamento oficial, divulgado em 2025, dividiu opiniões: de um lado, a comissão destaca a falta de evidências suficientes de custo-efetividade para justificar o uso em larga escala no sistema público; do outro, especialistas e entidades médicas argumentam que os medicamentos representam um avanço importante no enfrentamento da obesidade, doença crônica que atinge mais da metade da população brasileira.

O que são as “canetas emagrecedoras”?

As canetas emagrecedoras são dispositivos injetáveis que aplicam medicamentos análogos ao GLP-1 (glucagon-like peptide-1), substâncias capazes de reduzir o apetite, controlar a glicemia e favorecer a perda de peso.

Entre os fármacos mais conhecidos dessa classe estão:

  • Semaglutida (nome comercial Ozempic/Wegovy)

  • Liraglutida (nome comercial Saxenda/Victoza)

Essas medicações já são aprovadas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e utilizadas tanto em consultórios particulares quanto em planos de saúde, principalmente em pacientes com obesidade ou diabetes tipo 2O apelido “canetas emagrecedoras” se deve ao formato do dispositivo, semelhante a uma caneta injetável, que facilita a aplicação diária ou semanal pelo próprio paciente.

O posicionamento da Conitec

Em fevereiro de 2025, a Conitec concluiu que ainda não há justificativa suficiente para incorporar essas tecnologias ao SUSSegundo a comissão, os principais motivos foram o alto custo dos medicamentos, que tornaria inviável a oferta ampla no sistema público a falta de estudos robustos de custo-efetividade no contexto brasileiro e a necessidade de acompanhamento multidisciplinar para garantir resultados sustentáveis, algo ainda limitado em muitas regiões do país.

A Conitec reforçou, no entanto, que a obesidade é uma prioridade de saúde pública e que novas análises poderão ser feitas conforme surgirem evidências adicionais.

Críticas das sociedades médicas

Logo após a divulgação do parecer, diferentes entidades médicas se manifestaram publicamente contra a decisão.

Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM)

A SBEM destacou que a obesidade deve ser tratada como uma doença crônica multifatorial, e não apenas como consequência de hábitos individuais. Segundo a entidade, negar acesso a terapias modernas amplia a desigualdade no tratamento, já que apenas quem pode pagar terá acesso às canetas.

Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD)

A SBD ressaltou que o uso dos análogos de GLP-1 traz benefícios não apenas no controle do peso, mas também na redução de riscos cardiovasculares e no manejo da glicemia em pacientes com diabetes tipo 2. Para a entidade, restringir o acesso significa perder uma oportunidade de reduzir complicações graves e custos futuros ao sistema de saúde.

Conselho Federal de Medicina (CFM)

O CFM também manifestou preocupação, lembrando que a obesidade é uma das principais causas de mortalidade evitável no Brasil. Para o conselho, há uma urgência em ampliar o acesso a ferramentas eficazes de tratamento.

O impacto da obesidade no Brasil

De acordo com dados do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde (OMS):

  • Mais de 57% da população brasileira está acima do peso.

  • Cerca de 22% dos adultos apresentam obesidade.

  • A obesidade está associada a complicações como diabetes, hipertensãodoenças cardiovasculares e alguns tipos de câncer.

Esse cenário reforça o argumento das sociedades médicas: investir no tratamento adequado da obesidade não é apenas uma questão de qualidade de vida, mas também de economia em saúde pública, reduzindo gastos futuros com complicações graves.

Custo-efetividade: o principal impasse

O grande entrave da discussão está no preço elevado das canetas. Atualmente, um tratamento mensal pode variar de R$ 800 a R$ 1.500 na rede privada, valores inviáveis para a maioria dos brasileiros e de difícil absorção pelo SUS.

Para a Conitec, mesmo reconhecendo os benefícios clínicos, é preciso avaliar se o impacto orçamentário de disponibilizar essas medicações no SUS compensaria os resultados esperados. Já para as entidades médicas, a análise deve considerar o custo indireto da obesidade, incluindo internações, cirurgias e afastamentos do trabalho. Assim, investir em medicamentos poderia trazer economia a médio e longo prazo.

Tratamento da obesidade vai além do medicamento

Outro ponto destacado na discussão é que o uso das canetas não deve ser visto como solução isoladaEspecialistas lembram que o tratamento eficaz da obesidade envolve:

  • Mudanças no estilo de vida (alimentação balanceada, prática de atividade física).

  • Acompanhamento psicológico para lidar com questões emocionais associadas à alimentação.

  • Apoio multidisciplinar, incluindo médicos, nutricionistas e educadores físicos.

As canetas, portanto, podem ser uma ferramenta valiosa, mas devem integrar um plano terapêutico mais amplo.

O que esperar para os próximos anos?

Apesar da decisão da Conitec, a discussão sobre o uso das canetas emagrecedoras no SUS está longe de acabar. Especialistas acreditam que, com a chegada de novos medicamentos e a produção nacional de versões similares, os custos podem diminuir, abrindo espaço para futuras incorporações.

Além disso, a pressão das sociedades médicas e de grupos de pacientes tende a manter o tema em evidência, impulsionando novas avaliações e pesquisas no Brasil.

Considerações finais

A decisão da Conitec de não recomendar, por enquanto, a incorporação das canetas emagrecedoras ao SUS reflete um dilema complexo: equilibrar os avanços da ciência com os desafios orçamentários de um sistema público que atende milhões de brasileiros.

Por outro lado, as críticas das sociedades médicas ressaltam que a obesidade é um problema urgente e merece acesso a tratamentos modernos, sob pena de ampliar desigualdades e comprometer ainda mais a saúde da população. O futuro dessa discussão dependerá do avanço das pesquisas, da redução de custos e da construção de políticas públicas mais abrangentes no combate à obesidade.

Fontes:
OMS;
Futuro da Saúde;
Ministério da Saúde;
Sociedade Brasileira de Diabetes;
Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia.

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