O que é o rastreamento do câncer colorretal?
O rastreamento do câncer colorretal é uma estratégia de saúde pública voltada para identificar precocemente lesões ou tumores no intestino grosso e reto, mesmo antes do surgimento de sintomas. Isso é fundamental porque, nos estágios iniciais, esse tipo de câncer tende a ser assintomático ou apresentar sinais muito discretos, como alterações no hábito intestinal ou presença de sangue nas fezes.
Diferente de um diagnóstico feito a partir de sintomas, o rastreamento é realizado em pessoas saudáveis, dentro de uma faixa etária considerada de risco, com o objetivo de detectar alterações suspeitas antes que evoluam para formas mais graves da doença.
Por que o rastreamento do câncer colorretal é importante?
Câncer colorretal é o segundo mais incidente em homens e mulheres no Brasil, com mais de 45 mil novos casos por ano, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA). A boa notícia é que ele tem altas chances de cura quando diagnosticado precocemente.
Estudos realizados ao longo da última década mostram que o rastreamento regular pode reduzir significativamente a mortalidade associada à doença. Em países que já implantaram programas organizados de rastreamento, como Reino Unido, Canadá e Japão, observou-se queda importante nas mortes por câncer colorretal.
Além disso, a identificação de pólipos — lesões pré-cancerosas — permite a remoção antes que evoluam para tumores malignos, caracterizando uma forma de prevenção secundária extremamente eficaz.
Quais são os métodos de rastreamento?
Atualmente, os dois principais métodos de rastreamento utilizados globalmente são:
1. Teste de sangue oculto nas fezes (SOF)
Esse exame consiste na coleta de amostras de fezes para detectar a presença de pequenas quantidades de sangue não visíveis a olho nu. É uma opção menos invasiva, de baixo custo e com maior aceitação por parte da população.
Quando o resultado é positivo, o paciente é encaminhado para exames confirmatórios, geralmente uma colonoscopia.
Existem dois tipos principais:
Teste imunológico fecal (FIT): mais específico, com maior sensibilidade e mais recomendado atualmente.
Teste químico (gFOBT): método mais antigo e com maior chance de resultados falso-positivos.
2. Colonoscopia
A colonoscopia é considerada o padrão ouro para o diagnóstico de câncer colorretal. Trata-se de um exame endoscópico que permite a visualização direta de todo o intestino grosso e a retirada de pólipos ou realização de biópsias em tempo real.
Por ser mais invasiva, cara e exigir preparo intestinal prévio — como dieta líquida e uso de laxantes —, sua adoção como exame de rastreamento de primeira linha depende da estrutura do sistema de saúde e da capacidade instalada de atendimento.
Quando começar o rastreamento?
Essa é uma das principais dúvidas da população e também uma das discussões centrais entre especialistas. A recomendação pode variar conforme a instituição:
American Cancer Society (ACS): início aos 45 anos para adultos com risco médio.
Organização Mundial da Saúde (OMS): início aos 50 anos.
Sociedades médicas brasileiras (como SBCO e SBCP): seguem a orientação da ACS.
Para pessoas com histórico familiar de câncer colorretal (parente de primeiro grau com diagnóstico antes dos 60 anos), o rastreamento deve começar mais cedo, geralmente aos 40 anos ou 10 anos antes da idade do diagnóstico do familiar.
E o Brasil? Qual a situação no SUS?
Atualmente, o Sistema Único de Saúde (SUS) ainda não possui um programa nacional estruturado de rastreamento do câncer colorretal, como existe para o câncer de mama ou colo do útero. No entanto, desde 2023, um grupo de trabalho liderado pelo INCA e pelo Ministério da Saúde estuda a implementação dessa diretriz.
Esse grupo tem se debruçado sobre:
A melhor faixa etária para iniciar o rastreamento.
O tipo de exame mais viável para a realidade do SUS.
A infraestrutura necessária para realizar exames em larga escala.
A capacitação de profissionais especializados, como endoscopistas e anestesistas.
A expectativa é que a primeira proposta de rastreamento seja apresentada ainda em 2025 para análise da Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS), passando por consulta pública e, se aprovada, implementada progressivamente.
Quais os desafios da implementação?
Apesar da robusta base científica que comprova os benefícios do rastreamento do câncer colorretal, sua implementação em larga escala no Sistema Único de Saúde enfrenta barreiras significativas. Um dos principais entraves é a infraestrutura limitada, especialmente no que diz respeito à oferta de colonoscopias, que requer equipamentos específicos, médicos endoscopistas e, em muitos casos, anestesistas.
Além disso, a cobertura ainda é desigual entre as regiões do país, dificultando o acesso igualitário da população aos exames. Outro ponto crítico envolve os custos envolvidos: a colonoscopia é um procedimento caro e de maior complexidade, o que faz com que o teste de sangue oculto nas fezes seja visto como a alternativa mais viável para a realidade brasileira.
Soma-se a isso a necessidade de maior capacitação de profissionais da atenção básica para identificar corretamente os casos que devem ser encaminhados e, também, o desafio da aceitação da população, já que muitos pacientes relutam em fazer o preparo intestinal exigido pela colonoscopia ou sequer compreendem a importância da detecção precoce quando não apresentam sintomas.
Esses fatores combinados exigem planejamento estratégico, investimento contínuo e campanhas educativas para garantir a efetividade do programa quando ele for implementado.
O que observar enquanto o rastreamento não é realidade para prevenir o câncer colorretal?
Enquanto o rastreamento universal não for implementado pelo SUS, a recomendação para a população é ficar atenta aos sinais e sintomas, buscando atendimento médico ao menor sinal de alteração. Entre os principais sinais de alerta estão:
Presença de sangue nas fezes.
Alterações no ritmo intestinal (diarreia ou prisão de ventre persistente).
Dores abdominais frequentes ou sensação de evacuação incompleta.
Perda de peso inexplicada.
Mudança no formato das fezes.
Ao apresentar qualquer um desses sintomas, o ideal é procurar uma unidade de saúde básica para investigação precoce.
Como prevenir o câncer colorretal?
A prevenção do câncer colorretal está fortemente associada a mudanças no estilo de vida e na adoção de hábitos mais saudáveis. A alimentação tem papel fundamental nesse processo: dietas ricas em fibras, com maior consumo de frutas, vegetais e grãos integrais, ajudam no bom funcionamento intestinal e reduzem o risco de formação de lesões pré-cancerosas.
Por outro lado, o consumo elevado de carnes vermelhas, alimentos ultraprocessados e bebidas açucaradas está diretamente relacionado a um maior risco de desenvolvimento desse tipo de câncer, especialmente quando associado ao sobrepeso ou obesidade. Evitar o fumo e reduzir o consumo de álcool também são medidas que contribuem significativamente para a prevenção.
Além disso, a prática regular de atividade física atua como fator protetor, pois auxilia na regulação hormonal e no fortalecimento do sistema imunológico. Essas ações de prevenção primária, quando combinadas com a vigilância constante de sintomas e histórico familiar, representam uma importante forma de reduzir a incidência e as complicações do câncer colorretal na população.
Novidades: Protocolo de Alta Suspeição
Outra ação prevista para ainda este ano é a publicação de um Protocolo de Alta Suspeição, voltado aos profissionais da rede pública. Esse documento irá orientar de forma padronizada quais condutas seguir diante de sintomas sugestivos de câncer colorretal.
O objetivo é uniformizar os critérios de investigação precoce, reduzindo o tempo até o diagnóstico e tratamento. A proposta é que esse protocolo complemente a futura diretriz de rastreamento.
Considerações finais
O rastreamento do câncer colorretal é uma estratégia comprovadamente eficaz na redução da mortalidade e na detecção precoce da doença. A expectativa de que o SUS incorpore essa diretriz é uma esperança para ampliar o acesso ao diagnóstico precoce, especialmente entre populações mais vulneráveis.
Enquanto isso, é essencial que cada pessoa conheça os sinais de alerta e mantenha hábitos de vida saudáveis, pois a prevenção ainda é a melhor forma de cuidado.
Fontes:
INCA;
American Cancer Society;
OMS;
SBCP;
SBCO.