Receber o diagnóstico de câncer: e agora?
Descobrir um câncer pode ser assustador. Entre os inúmeros pensamentos que surgem, uma das primeiras dúvidas costuma ser: “Vou poder continuar trabalhando?” Ou, ainda: “Se eu não puder, terei alguma ajuda do governo?” Essas perguntas são legítimas e precisam ser respondidas com clareza, empatia e informação precisa.
Cada caso é único, e a possibilidade de seguir trabalhando depende de diversos fatores, como o tipo e estágio do câncer, o tratamento indicado, o estado de saúde geral da pessoa e até mesmo o tipo de atividade profissional exercida. Neste artigo, vamos explicar tudo o que você precisa saber.
Quem tem câncer pode continuar trabalhando?
Sim, em muitos casos, a pessoa com câncer pode continuar trabalhando — principalmente nos estágios iniciais ou se o tratamento for menos agressivo. Tudo depende de como a doença e os medicamentos afetam a saúde física e emocional do paciente.
O que pode influenciar essa decisão:
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Tipo de tratamento: sessões de quimioterapia e radioterapia podem causar efeitos colaterais como fadiga, náuseas e queda da imunidade.
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Tipo de câncer: alguns são mais agressivos e exigem afastamento imediato.
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Estágio da doença: em fases mais avançadas, o organismo pode ficar mais debilitado.
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Atividade profissional: se for um trabalho com alta exigência física ou exposição a agentes nocivos, o afastamento pode ser necessário.
É essencial conversar com o médico oncologista e também com o médico do trabalho. Ambos podem avaliar se há condições de seguir trabalhando ou se o afastamento é o mais indicado.
Trabalhar pode ser benéfico em alguns casos
Permanecer no trabalho pode ajudar o paciente com câncer a manter uma rotina, se sentir útil e enfrentar a doença com mais força emocional. Porém, é fundamental respeitar os limites do corpo e seguir as orientações médicas.
Algumas empresas são abertas à possibilidade de adaptar a jornada de trabalho ou permitir o regime remoto, o que pode facilitar bastante a continuidade da atividade profissional.
Quando é necessário se afastar do trabalho?
Se o tratamento provocar muitos efeitos colaterais ou comprometer a imunidade e a disposição do paciente, o afastamento se torna a melhor escolha.
Nesse caso, é importante saber que a pessoa com câncer tem direito a benefícios do INSS e, dependendo da situação, pode até se aposentar por invalidez.
Quais são os benefícios do INSS para quem tem câncer?
A legislação brasileira assegura diversos direitos a pacientes com câncer. Entre os principais benefícios financeiros oferecidos pelo governo estão:
1. Auxílio-doença (atualmente chamado de Benefício por Incapacidade Temporária)
Esse é o benefício mais comum para quem precisa se afastar temporariamente do trabalho por motivo de saúde.
Requisitos:
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Estar contribuindo com o INSS (ou estar no período de graça, que é o tempo em que a pessoa mantém os direitos mesmo sem pagar).
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Apresentar laudos médicos que comprovem a incapacidade temporária para o trabalho.
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Afastamento superior a 15 dias.
Como solicitar:
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Acesse o site ou app Meu INSS.
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Faça login com seu CPF.
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Selecione “Agendar Perícia” e siga as orientações.
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No dia da perícia, leve todos os documentos médicos, incluindo exames e laudos.
2. Aposentadoria por Invalidez (Benefício por Incapacidade Permanente)
Caso a doença impeça definitivamente o retorno ao trabalho, a pessoa pode ter direito à aposentadoria por invalidez.
Requisitos:
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Comprovação médica da incapacidade permanente.
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Avaliação por perícia médica do INSS.
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Em regra, é exigido tempo mínimo de contribuição, mas em casos de câncer, esse requisito pode ser flexibilizado.
3. Benefício de Prestação Continuada (BPC/LOAS)
Se o paciente com câncer não contribuiu com o INSS e não tem renda suficiente para se manter, pode solicitar o BPC, um benefício assistencial pago a idosos ou pessoas com deficiência de baixa renda.
Requisitos:
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Renda familiar per capita inferior a 1/4 do salário mínimo.
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Laudo médico que comprove a condição.
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Cadastro no CadÚnico (Cadastro Único para Programas Sociais).
Valor: equivalente a 1 salário mínimo.
Importante: o BPC não dá direito a 13º salário e não gera pensão por morte.
4. Saque do FGTS e do PIS/PASEP
Pacientes com câncer (ou seus dependentes) também têm direito ao saque integral do FGTS e do PIS/PASEP.
Como funciona:
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Basta apresentar o laudo médico com CID C00 a C97.
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Levar documento pessoal e carteira de trabalho até uma agência da Caixa Econômica (FGTS) ou Banco do Brasil (PIS/PASEP).
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Também é possível iniciar o processo pelo app do FGTS.
Direitos adicionais de quem tem câncer
Além dos benefícios financeiros, o paciente com câncer tem outros direitos garantidos por lei:
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Isenção de imposto de renda na aposentadoria
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Isenção de IPI na compra de carro adaptado
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Prioridade no atendimento em serviços públicos
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Transporte gratuito em muitos municípios
Confira também Benefícios do governo para pacientes com câncer para conhecer mais direitos garantidos pelo governo.
Dicas práticas para o paciente recém-diagnosticado
Ao receber o diagnóstico de câncer, é comum sentir-se perdido diante de tantas mudanças. Uma das atitudes mais importantes é conversar abertamente com seu empregador, buscando acordos para adaptação da rotina, como flexibilização de horários ou trabalho remoto, sempre com o apoio do médico. Também é essencial procurar suporte psicológico para lidar com as emoções e o impacto do tratamento na vida pessoal e profissional.
Além disso, manter a organização dos documentos médicos, como laudos, exames e relatórios, facilitará tanto o acompanhamento clínico quanto eventuais solicitações de benefícios junto ao INSS. Além disso, utilizar ferramentas digitais como o aplicativo Meu INSS pode agilizar processos e garantir mais praticidade no seu dia a dia.
Você não está sozinho
O diagnóstico de câncer muda a vida, mas não precisa significar o fim de tudo — inclusive da carreira profissional. Muitos pacientes continuam trabalhando com adaptações, enquanto outros se afastam e recebem auxílio para focar na recuperação. O mais importante é saber que você tem direitos e que existem políticas públicas para te apoiar nesse momento difícil.
Buscar informação de qualidade, ouvir o corpo e seguir o plano de tratamento com responsabilidade são os primeiros passos para lidar com a nova realidade com mais tranquilidade
Fontes:
INCA;
INSS;
Caixa Econômica Federal;
Drauzio Varella.